Professora-adjunta da Universidade Federal Fluminense, consultora do Instituto MVC - Estratégia e Humanismo - e pedagoga, Hilda é uma das poucas pesquisadoras acadêmicas que se interessa pela influência do ambiente de trabalho na saúde psíquica. Sua tese de doutorado identifica e descreve a Síndrome Loco-Neurótica (SLN), que se desenvolve notadamente em profissionais que atuam em ambientes de trabalho conturbados.
A dra Hilda coordena um grupo de pesquisa sobre stress no trabalho, na Universidade Fluminense. Contamos com sua ajuda para responder algumas questões sobre nosso foco de pesquisa.
O tema que vcs focalizam é extremamente complexo. Para cada pergunta, eu precisaria escrever várias laudas se quisesse dar uma resposta razoável. Infelizmente não posso dispor desse tempo todo agora.
Outro problema é que eu não sou da área da saúde. Logo, vou responder algumas perguntas sob o ângulo das ciências sociais e humanas, meu campo de estudos. Eu pesquiso, na verdade, os estressores (causadores de estresse).
Não posso falar sobre a depressão ou sobre os hormônios, por exemplo.
Sugiro que vcs complementem com alguém da área da saúde.
Vamos lá:
Qual a diferença entre stress e depressão?
O estresse é uma reação do organismo, necessária à vida, tão antiga quanto o homem. De um modo muito simplificado é possível dizer que o estresse mobiliza para a ação, a partir de uma espécie de equilíbrio instável entre as demandas (estressores) e a capacidade de resposta do organismo. Quando há mais demandas do que somos capazes de suportar ou quando essas demandas estão aquém do que precisamos para mobilizar nossas energias vitais, tendemos a viver o chamado "distresse", que seria uma importante ameaça à saúde.
A depressão é uma doença séria que se manifesta por causas variadas.
Existe algum tipo de benefício em decorrência do stress?
Acho que já respondi ali acima.
Por que, atualmente, cada vez mais pessoas sofrem com o stress? A afirmação "o stress mata" pode ser verdade?
É possível dizer que o estresse está associado a inúmeras doenças, algumas fatais (doenças cardiovasculares, por exemplo).
O que mata, na verdade, não é o estresse, por si só, mas aquilo que ele é capaz de provocar no corpo e na mente quando se mostra excessivo.
A questão sobre mais pessoas apresentando sintomas de distresse é verdadeira e muito complexa.
De um modo muito resumido, o cenário contemporâneo, revolucionado pela tecnologia, tem colocado as pessoas diante de inúmeros apelos simultâneos, inúmeras possibilidades, informações variadas e exigências que tornam necessário um dia de pelo menos 48 horas para serem atendidas.
Tudo é feito em extrema velocidade, as pessoas mostram-se impacientes e ansiosas.
Falta tempo para os afetos, para a convivência, para o sono tranqüilo.
Os espaços estão embaralhados, a vida virtual não é mais a que está diante de nós, mas aquela em que estamos inseridos. Duvidamos de tudo e de nada, ao mesmo tempo. Os novos valores nos falam de questões planetárias (ecologia, por exemplo). As incertezas e as inseguranças são muitas.
O stress infantil se assemelha ao stress adulto? De que forma?
O estresse é típico do humano, logo crianças e adultos vivem o estresse de modo semelhante. No entanto, a experiência e as conseqüências (reações comportamentais, doenças etc.) guardam relação com a faixa etária, com as condições de existência, com as relações de afeto, com o suporte social etc.
Os estressores também podem ser diferenciados. O que estressa uma criança nem sempre é o que estressa um adulto, e vice-versa.
No entanto, é preciso lembrar que o equilíbrio ao qual me referi na primeira resposta traz de um lado os estressores e de outro a capacidade de lidar com eles, o que faz com que as reações sejam muito particulares e variem até de um momento para o outro, na mesma pessoa. Vamos ver um exemplo: um dia em que tudo dá errado é suficiente para fazer alguém se descontrolar por um pequeno incidente. Essa mesma pessoa, num dia em que tudo esteja correndo bem, geralmente lida com o pequeno incidente de modo muito diverso.
De que forma o hormônio cortisol atua em nosso organismo em uma situação estressora?O hormônio cortisol é liberado imediatamente diante de uma situação estressora ?
Sugiro ler o livro "O Complexo de Atlas", do médico Alex Botsaris. É excelente!
Existem pesquisas sobre stress em alunos com Transtornos Globais de Desenvolvimento?
Não tenho essa informação.
Finalizando, atrevemo-nos a solicitar-lhe uma mensagem a um grupo de estudantes do quinto semestre de Pedagogia da UFRGS, todas com 40 ou 60h de trabalho semanal, mães , filhas, esposas...enfim...pessoas como tantas outras que vivem um dia-a-dia estressante.
Para as minhas companheiras de opção pela educação, eu lembro de uma frase da grande Lígia Fagundes Teles: "Vocação é a felicidade de ter como ofício a paixão".
Não esqueçam de manter os olhos brilhando!
Um beijo carinhoso
Hilda Alevato
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